JANETE M. BADARÓ
Janete Mendonça Badaró Mulher de muitos talentos: advogada, escritora, poeta, jornalista, artista plástica – pintava e desenhava muito bem. Quantas noites, passou debruçada em revisão de textos para o Ilhéus Jornal, Ilhéus Revista, Revista IR - órgãos de comunicação que fundou junto ao seu saudoso esposo, meu pai, Carlos Alberto Ramagem Badaró - e que ela dirigiu por mais de 20 anos, tendo feito história na imprensa regional: arte, cultura, turismo, política, literatura, economia, esporte, meio ambiente... Ah, um mundo encantador! Na redação, cheia de papéis, livros, revistas, recortes, fotos, fotolitos, textos originais, circulavam os intelectuais da cidade. Verdadeira oficina de iniciação para diversos profissionais de imprensa que atuam hoje na região. Foi a primeira militante dos direitos da mulher que eu conheci.
(...)
Nascida em 16 de julho de 1935- dia em que, nas tradições católicas, se homenageia Nossa Senhora do Carmo-, filha de Ariston Bastos de Mendonça e Beatriz Neves de Mendonça. Ilheense, aposentada pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, foi a primeira mulher a ingressar na Academia de Letras de Ilhéus, academia que fizeram parte também os escritores Jorge Amado e Adonias Filho. Bacharel em Direito e Letras. Dois livros lançados: "Momentos” e "Máscaras em Procissão" (este último, prefaciado por Adonias Filho, foi lindamente ilustrado por ela mesma!), além de participação em diversas coletâneas.
Texto por Jane Hilda, é advogada, professora do DCIJUR/UESC, jornalista e artista plástica.
BADARÓ, Janete Mendonça. Máscaras em Procissão: poemas. Apresentação de Adonias Filho. Capa e ilustrações: Janete Mendonça Badaró. Ilhéus, BA: Editora Ilhéus Revista, 1984. 95 p. ilus.
15 x 19 cm.
Ex. bibl. Antonio Miranda, doação do livreiro José Jorge Leite de Brito.
“A procissão começa em São Jorge dos Ilhéus onde uma história acontece.
No percurso sem-fim, vêm outros lugares e tempos que salpicam o universo por onde erra a procissão humana projetada pela poeta. Há “flashes” rápidos que mostram máscaras. Mas há “closes” de mestre que retratam em tintas fortes emoções plenas derramadas nas máscaras iluminadas.
Nesses momentos de intenso lirismo, as melhores tomadas de “Máscaras em Procissão.”
Maria de Lourdes Netto Simões (Itabuna, Bahia) 1984.
Num céu muito aberto
para receber risos de verão
a terra se cobre
de muito verde e azul
É a mata e o mar
esparramando-se
por todos os lados
e colinas alegres
porto ponte
ruas casas
gente
tudo respirando fé
que vem do Cristo Redentor
das torres das igrejas
dos corações centenários
e aos sábados e domingos
feéricos
todos vão ao banquete de sol
nas praias de areia alva
comem caranguejo
bebem cerveja
batem um papo à toa
queimam os corpos
abandonados à brincadeiras da carne
após o descenso
ficam dispostos
para mais uma semana de labuta
no tributo às vezes indolente
indolência própria de praiano
pago no comércio
indústria
escola
transações do cacau.
Soltas
no espaço mágico
exuberante
bonito
da “Princesinha do Sul”
as MÁSCARAS DESENCONTRADAS!”
(...)
(...)
Corpo maltratado
lapadas do mundo
no lombo descoberto
passa por baixo da ponte
e se verga
sob o peso
do cimento armado
o céu
esqueceu que é ela
frágil criatura
fiada na bondade de Deus
o mar
lambe seu peito
amolecendo o coração
empedrado
de tantas dores
a energia vital
move seus passos
cansado de tantos desencontros
nos caminhos sem dono
brinquedo da sorte
a MÁSCARA ATURDIDA.
(...)
Ré confessa
permaneço sentada
no banco raquítico
julgada pelo crime
de ter nascido
MÁSCARA PENSANTE
(...)
*
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Página publicada em abril de 2021
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